Poeta
Nasceu em S. Brás de Alportel, a 29 de Outubro de 1876.
Faleceu em Faro, a 2 de Junho de 1930.
Nascido e criado numa família dotada para as letras e para as artes, Bernardo de Passos começou muito cedo a publicar as suas poesias em jornais do Algarve, assinando «Passos Júnior» (tinha exactamente o nome e apelidos de seu pai, que também era publicista).
Como o seu progenitor, abraçou os ideais republicanos, que defendeu em muitos artigos assinados com o pseudónimo de «Brás Brasil», e divulgou, com atitudes cívicas, nomeadamente dando aulas gratuitas no centro republicano da sua terra.
Depois de uma curta permanência em Lisboa, como ajudante de farmácia na Rua de São Bento, foi escrivão em S. Brás de Alportel e , depois da implantação da República, por nomeação, foi administrador do Concelho de Faro e mais tarde secretário da Câmara Municipal, cargo que ocupou até ao seu falecimento.
Modesto, generoso, solidário e idealista, alguém lhe chamou São Bernardo de Passos. Certamente merecido elogio.
Poeta de grande inspiração, sensibilidade e forma puríssima. Cantou a paisagem algarvia como poucos. O seu talento lírico, por vezes despojado, fala-nos da Natureza e da Mulher como se, só a estas, o leitor devesse apreço e não ao espírito privilegiado que as descreve.
De acordo com os ideais políticos que perfilhava, demonstrou, através da sua obra, preocupações sociais. Com grande subtileza, não deixa de fazer críticas a favor dos mais desprotegidos.
O livro de estreia, em 1902, foi Adeus, cujo estilo o aproxima de Guerra Junqueiro. Vem depois Grão de Trigo, em 1907, que dedicou ao que foi presidente da República Portuguesa, Manuel de Arriaga, ao nome do qual acrescentou a designação «o Apóstolo». Em 1909 publica Portugal na Cruz, e, em 1913, Bandeira da República.
A Árvore e o Ninho, saído logo após a sua morte, em 1930, é o hino de amor dedicado às crianças. Também publicado postumamente, em 1936, a sua obra Refúgio é, por assim dizer, o trabalho em que mais profundamente se sente a maturidade da reflexão do homem inteligente e lúcido que foi Bernardo de Passos, servida por um exprimir poético de rara beleza. À parte a colaboração em jornais, nomeadamente no Correio do Sul, que dirigiu e de que foi co-fundador, e alguns prefácios em obras de amigos, Bernardo de Passos apenas nos legou em prosa um pequeno opúsculo panfletário com o título A Reacção no Algarve.
O nome de Bernardo de Passos faz parte da toponímia da sua terra natal, de Faro e de Lisboa.
A Câmara Municipal de S. Brás de Alportel mandou colocar uma lápide na casa onde o poeta nasceu, e o seu busto perpetua-o numa das artérias da vila. Também em 1983, aquela edilidade editou a obra completa de Bernardo de Passos, permitindo aos mais novos um melhor conhecimento do valor intelectual de um dos mais inspirados poetas de língua portuguesa.
In: «Quem foi quem?: 200 Algarvios do Século XX; Glória Maria Marreiros; Lisboa: Edições Colibri, 2000; p. 381-382"