Arquivo de José Relvas vai ser digitalizado
São doze os volumes que reúnem os recortes de jornais e revistas meticulosamente organizados pelo homem que proclamou a República em 5 de Outubro de 1910, José Relvas, e que retratam o período que antecedeu a queda da monarquia.
Os volumes, intitulados “Questões Políticas e Económicas”, guardados na biblioteca da Casa dos Patudos, que Relvas mandou construir no início do século XX em Alpiarça, vão ser digitalizados com o apoio da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR), com o objectivo de serem disponibilizados online.
“É um investimento importante porque são elementos frágeis que correm muitos riscos. Ainda bem que é possível salvaguardar e sobretudo divulgar o que está aqui de boa informação sobre aquele período histórico”, disse João Bonifácio Serra, historiador e coordenador da Casa Museu dos Patudos.
José Relvas “era um homem extremamente cuidadoso, seleccionava documentos que guardou” permitindo agora reconstituir aquela época, disse o também professor da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha (Instituto Politécnico de Leiria) e membro do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Universidade Nova de Lisboa).
Os doze volumes guardam recortes de jornais e revistas publicados entre 1906 e 1909, terminando em Abril desse ano, quando Relvas foi eleito para o directório do Partido Republicano.
Os documentos reunidos nesta colecção por José Relvas ilustram a visão sobre a situação política em que se empenhou, em particular a luta dos produtores de vinho ribatejanos contra o decreto do ditador João Franco que protegia os vinhos licorosos do Douro.
O ano mais profusamente documentado, em volumes que Relvas anotava e marcava, é o de 1908, com destaque para o que a imprensa publicou sobre o regicídio.
Mário Pereira, presidente da câmara municipal de Alpiarça, disse que, além da digitalização destes documentos, o apoio dado pela CNCCR (doze mil euros) destina-se ainda à publicação da correspondência política e diplomática trocada entre José Relvas e Augusto de Vasconcelos, que lhe sucedeu como ministro plenipotenciário em Madrid.
Nesse âmbito está ainda programada, em conjunto com a Câmara Municipal de Viseu, a publicação da correspondência trocada com Almeida Moreira, professor e crítico de arte que criou o Museu Grão Vasco naquela cidade, e uma exposição sobre a ligação da família de José Relvas àquela zona da Beira Interior.
Confessando que herdou estas iniciativas da autarquia anterior, Mário Pereira disse que o actual executivo autárquico quer complementar a comemoração do centenário da República no concelho com acções que, por um lado, envolvam a população e, por outro, sirvam para um reconhecimento nacional de José Relvas e da casa e do património que legou ao município.
A Casa dos Patudos encontra-se em obras (o que pode limitar a realização de acções naquele espaço), que visam evitar a degradação de um dos exemplares mais significativos da obra do arquitecto Raul Lino, melhorar o circuito expositivo e criar um Centro de Documentação e Investigação, aproveitando o enorme acervo documental deixado por José Relvas.
Jornal "Público"