Escultora.
Nasceu em S. Brás de Alportel, a 15 de Novembro de 1880.
Faleceu em Faro, a 21 de Agosto de 1958
Rosalina, ainda que rodeada pelos seus três irmãos superiormente dotados, não revelou, que se saiba, na infância e adolescência para a escultura, em que se viria a afirmar como a maior, se não a única escultora algarvia da primeira metade do século XX.
Talvez a menina fosse especialmente habilidosa na confecção e moldagem de bolinhos de amêndoa ou de massa sovada, onde se poderia adivinhar a sua inclinação. Mas quem é que ligava, ou liga, a essas artes menores?
O que se sabe, dito pela própria, numa entrevista dada a Vítor Melo e editada por Gomes & Rodrigues, Lda, Lisboa, s.d., é que, sendo já casada, «numa noite de luar, quando me aproximei de uma das minhas janelas vi que o luar enchia o infinito e iluminava de tal beleza as chaminés, que me deu a impressão maravilhosa de estar num imenso jardim ornamentado por estátuas. Quanto mais contemplava as chaminés mais via nelas figuras com expressões e atitudes diferentes».
Começou então a modelar em gesso duro cortado a canivete. Uma das primeiras obras terá sido o busto de sua mãe que, na altura, teria cerca de setenta anos.
Sentindo que precisava de aprender, adquiriu alguns livros da especialidade e, nas suas idas a Lisboa procurava ensinamentos junto de escultores conhecidos, o que lhe permitiu passar para a modelação em barro antes de passar as peças ao gesso.
A morte prematura dos irmãos Bernardo e Boaventura, a doença incurável do filho mais velho e, mais tarde, do marido, foram aspectos muito dolorosos que a escultora conseguiu suportar tendo como lenitivo a sua arte.
Rosalina Passos deixou-nos dezenas de obras, algumas em barro que o tempo deteriorou ou mesmo destruiu, outras em gesso que se encontram em casa de descendentes da artista e no Museu Etnográfico do Trajo Algarvio.
Ainda em vida da artista algumas das suas obras estiveram expostas na Sociedade Nacional de Belas Artes, incluindo Angústia, que a escultora ofereceu para as vítimas do ciclone de 15 de Fevereiro de 1941.
Sublinharemos as figuras de presépio em tamanho natural e um busto de mulher numa expressão dolorosa a que chamou Súplica, e que teve como modelo a própria artista, que, na entrevista atrás referida diz:
«Servi-me de um espelho e fui eu mesma o modelo do meu trabalho. Não copio as minhas feições mas a expressão do meu rosto… tive um trabalho extenuante de persistência e principalmente de concentração, para fazer a expressão e as mãos com os dedos entrelaçados em ar de súplica…».
Aos 78 anos de idade faleceu Rosalina de Passos, deixando uma obra ímpar e genial na história da escultura algarvia realizada por mãos femininas.
Algumas fotografias dos seus trabalhos foram reproduzidas na imprensa regional e nacional, tendo merecido referências elogiosas dos periódicos da época.
Rosalina de Passos também fez poesia, que deixou inédita ou dispersa por jornais.
É dedicado ao irmão Bernardo o soneto seguinte, amavelmente cedido por sua neta Dr.ª Graça de Passos:
«Avivo-te na lembrança e vejo ainda
Teus olhos fitarem-me docemente.
Vejo-te agora e sempre, sorridente,
Em uma auréola de bondade infinda.
E na minha saudade, que não finda,
Rezo os lindos versos onde é presente
A tua alma de Santo, ternamente
A falar numa voz astral e linda…
Não morreste, não; na região etérea
Teu ‘spírito liberto da matéria
É ritmo e é luz, é perfeição.
A vida, asa dorida, é vã quimera,
E o pranto é lava de uma cratera
Enchendo o mundo de negra aflição».
In: «Quem foi quem?: 200 Algarvios do Século XX / Glória Maria Marreiros.- Lisboa: Edições Colibri, 2000; p. 385-386»