Bastante mais simples foi a escolha do hino - não houve qualquer oposição à ideia de adoptar A Portuguesa. E assim Portugal ficou até hoje com um hino que começou por ser um desafio popular a Inglaterra. Conta Severiano Teixeira: "É um hino patriótico, que não surge no contexto republicano, mas sim no do Ultimato inglês." Recuamos aos anos finais da monarquia, quando a oposição britânica à ideia de Portugal unir os seus territórios em África (o célebre Mapa Cor-de-Rosa) faz desencadear um movimento popular contra os ingleses. "Alfredo Keil compõe a canção, vai a casa do [Henrique] Lopes de Mendonça e diz-lhe que já tem um hino feito, mas que precisa de uma letra. Toca-lhe os acordes da Portuguesa, e Lopes de Mendonça cria a letra." Os dois fizeram 12 mil exemplares da partitura e distribuíram-nos. Estávamos em 1890.
A partir daí a música ganha vida própria. "É tocada pela primeira vez num teatro, durante uma peça. No início é basicamente um hino patriótico e nacionalista, mas a pouco e pouco vai sendo apropriado pelos republicanos. A certa altura o Governo [empenhado em não agravar a questão com os ingleses] proíbe-o, e isso reforça a sua legitimidade nacional. Quando surge o 5 de Outubro, era quase natural que o hino fosse A Portuguesa."
Só o novo significado (de resistência à monarquia) que a música entretanto conquistara justifica que se continuasse a cantar "Às armas, às armas!/Pela Pátria lutar!", quando a questão com a Inglaterra já estava ultrapassada.