Republicano, paladino da criação do concelho de São Brás de Alportel.
Nasceu em São Brás de Alportel, a 19 de Abril de 1881.
Faleceu em Casablanca (Marrocos), a 27 de Julho de 1960.
Republicano convicto, ao apelo do chefe político deslocou-se da sua terra, deixou os negócios e apresentou-se em Lisboa, disposto a dar a vida pela implantação da República. Estávamos em 1910.
Foi um dos homens que, na Rotunda, combateu contra os monárquicos.
O Intransigente, jornal republicano, dirigido pelo comandante Machado dos Santos, no seu número de 19 de Março de 1911, lembrando os que, a 4 de Outubro de 1910, tudo fizeram pelo sucesso da revolução, insere na 1.ª página a fotografia de Rosa Beatriz como um dos heróis da Rotunda.
Do mesmo modo, valorosamente se bateu no Norte contra a incursão monárquica chefiada por Henrique de Paiva Couceiro.
Machado dos Santos foi seu chefe revolucionário e amigo, demonstrando-lhe grande consideração.
Após a vitória da república foram-lhe oferecidos lugares de prestígio, mas Rosa Beatriz apenas aceitou influências no sentido de elevar a aldeia de São Brás, uma das mais populosas do Concelho de Faro, a sede de concelho, o que veio a acontecer no dia 1 de Junho de 1914, depois de muitas idas à capital, de muito trabalho, dedicação e despesas suportadas pelo próprio e por seus correligionários sambrazenses.
A comissão executiva tomou posse a 15 de Agosto de 1914.
João rosa Beatriz foi o primeiro Administrador do novo concelho, cargo correspondente, aproximadamente, ao que é actualmente o de Presidente da Câmara.
Era comerciante e o seu ordenado como Administrador do Concelho foi inteiramente oferecido para comprar os móveis necessários para o funcionamento dos novos serviços, inerentes à autonomia administrativa recém-criada.
Preocupado com os possíveis avanços dos «talassas» ou de outros grupos antidemocráticos formou e comandou o Batalhão de Voluntários para a Defesa da República.
João Rosa Beatriz realizou, pelo menos, dois grandes sonhos da sua vida: ver implantada a República e elevar São Brás de Alportel a Concelho.
Depois das dificuldades dos primeiros tempos, montou um estabelecimento ao qual deu o mesmo nome daquele que tinha em S. Brás: Loja do Povo.
Foi vice-cônsul de Portugal em Mazagão e nessas funções contribuiu para dar documentação a muitos emigrantes clandestinos que chegavam a Marrocos. Conseguiu, nessa cidade, que fosse dado o nome de S. Brás de Alportel a uma das ruas.
Quando se implantou o Estado Novo pediu a exoneração do cargo.
Do exílio enviava notícias e palavras de incentivo para o jornal República e, em Marrocos, sempre que havia festas ou manifestações políticas, lá estava ele com a bandeira portuguesa.
Em 1940 passou-se um episódio que lhe trouxe dissabores, mas que atesta bem a fibra de rosa Beatriz: as autoridades francesas comemoravam, em Mazagão, o 11 de Novembro – dia do armistício, sob as ordens do governo de Vichy. Faziam discursos empolgantes junto do monumento ao soldado desconhecido. Ao mesmo tempo, não muito longe, um grupo de franceses e João Rosa Beatriz, sobraçando ramos de rosas vermelhas, discursavam contra a capitulação da França e contra o General Petain.
Foram presos e o corajoso Sambrazense obrigado a residência fixa na cidade de Meknés, a 340 km de Mazagão.
Depois do desembarque das forças aliadas no Norte de África, viu o seu castigo levantado, mas continuou voluntariamente a residir em Meknés, até que, após a morte da esposa, Maria da Concepcion, se mudou para Casablanca, onde veio a falecer.
Segundo Júlio Martins Negrão, João Rosa Beatriz, alguns meses antes de morrer, mandou pedir terra de S. Brás para que lha deitassem sobre o seu caixão.
Faleceu em 1960, sendo sepultado em Meknés junto da campa de sua mulher.
Vinte e cinco anos depois os restos mortais do fundador do concelho foram trasladados para S. Brás de Alportel, no dia 1 de Junho de 1985.
In: «Quem foi quem?: 200 Algarvios do Século XX / Glória Maria Marreiros.- Lisboa: Edições Colibri, 2000, pp. 71-74»