Médico, democrata, benemérito.
Nasceu em S. Brás de Alportel, a 20 de Janeiro de 1878.
Faleceu em Faro, a 9 de Dezembro de 1968.
Licenciou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa, com elevada classificação.
Iniciou a prática da medicina em Lisboa em 1911. Sem ser obstetra, foi o parteiro da primeira filha do oficial de marinha Mendes Cabeçadas, destacado republicano e seu comprovinciano.
Regressado ao Algarve, montou consultório em Olhão, onde logo granjeou fama e simpatia pelas suas qualidades humanas. Mudou-se depois para Faro, onde exerceu a profissão por longos anos.
Competente, generoso, altruísta foi chamado «o pai dos pobres», sempre disponível e pronto a ajudar os mais desfavorecidos.
Criou as conhecidas hóstias do Dr. João Nobre. Poderiam eventualmente ser apenas um placebo, mas os resultados eram positivos para várias queixas.
Republicano, esteve ao lado de João Rosa Beatriz na luta pela elevação da aldeia de S. Brás a concelho, luta em que nem sempre foram apoiados pelos correligionários de Faro, que não viam com bons olhos a separação da freguesia, que fazia, então, parte do concelho da capital algarvia.
Com o advento da República, desempenhou vários cargos, cumulativamente com o exercício da medicina. Foi presidente da Câmara Municipal de Olhão, Governador Civil, substituto, e Presidente da Junta Geral do Distrito.
No dia 5 de Outubro de 1916, quando a filarmónica de Faro tocava A Portuguesa, à porta da residência do Dr. Silva Nobre, na comemoração do 6.º aniversário da implantação da República, nesse mesmo momento nascia, numa das dependências da casa, um bebé do sexo masculino, filho do médico e de sua esposa, D. Adelina. Conta-se que o pai ao ouvir o choro do filho misturado com o Hino Nacional, terá dito: «- este há-de ser músico!».
A profecia saiu certa, o menino é o compositor e maestro João Dias Nobre.
Quando os ideais republicanos que defendia estavam em perigo, com a aproximação da ditadura Militar, participou num comício, no Centro Democrático de Olhão, no qual foi brilhante orador.
Nunca pactuou com o salazarismo, e, apesar de vigiado pela PIDE, foi activista do movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiou energicamente a candidatura do general Norton de matos e, depois, a candidatura do general Humberto delgado, tendo recebido ambos os candidatos na sua casa, em Faro.
Foi Director do semanário A ideia Republicana.
Escreveu duas revistas Os Filhos do Mar e Se eu fosse Homem. Esta constituiu grande sucesso, num espectáculo representado por crianças de Olhão, que o próprio autor ensaiou.
Em memória deste cidadão de corpo inteiro, que foi o Dr. João da Silva Nobre, a Câmara Municipal de Faro mandou erigir um busto, da autoria de Sidónio de Almeida, que se encontra em frente da casa onde o médico residiu.
O seu funeral, vigiado pela PIDE, foi uma verdadeira manifestação de pesar pela morte do cidadão impoluto e profissional dedicado que só abandonou a prática da medicina no dia em que quis prescrever um medicamento a um doente e não conseguiu recordar-se nem da fórmula nem do nome do remédio. Estava próximo dos 90 anos!
Por decisão de sua esposa e filhos, foi doado à biblioteca Municipal de faro, através do Dr. Pinheiro e Rosa, parte do espólio bibliográfico do ilustre médico e democrata sambrazense.
O nome do Dr. Silva Nobre faz parte da toponímia da sua terra. Em faro tem um largo e uma rua, esta na freguesia de Montenegro.
In: «Quem foi quem?: 200 Algarvios do Século XX/ Glória Maria Marreiros.- Lisboa: Edições Colibri, 2000; p. 363-36»4