Carlos Filipe Porfírio

Carlos Filipe Porfírio

Pintor e cineasta.

Nasceu em Faro, a 29 de Março de 1895

Faleceu em Faro, a 25 de Novembro de 1970.

 

Grande pintor contemporâneo, Carlos Porfírio foi um artista eclético e um homem do mundo: pintor, cineasta, museólogo e etnólogo.

Na inquietação da juventude, que tantas vezes atinge os grandes artistas quando o mundo em redor parece não compreendê-los, Carlos parte para Paris. Leva uma enorme capacidade artística dentro de si e alguns ensinamentos de pintura, nomeadamente de seu pai, também pintor.

A estada é curta, mas suficiente para o artista se aperceber de que pode cortar as amarras da pintura académica e aliar-se ao movimento da corrente futurista que em França tinha surgido nos finais da 1ª década do século XX, envolvendo não só os artistas plásticos, mas também a música, o bailado e a literatura.

Em Lisboa, Carlos Porfírio frequenta a Escola de Belas Artes cujas aulas, no aspecto conceptual não o satisfazem. Adere, muito naturalmente ao grupo pioneiro do futurismo em Portugal - a chamada geração do Orpheu - de que fazia parte Mário de Sá- Carneiro, vindo de Paris, em 1916 e que trazia as novidades no campo da arte e das letras, Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor, Fernando Pessoa e outros.

Apesar da plêiade de intelectuais, é o jovem pintor algarvio que irá ser editor e director da revista Portugal Futurista, onde Almada Negreiros escreveu - no primeiro e único número saído - o manifesto Ultimatum, no qual repudia o idealismo romântico da pequena burguesia.

Portugal Futurista seria, relativamente às artes plásticas, o equivalente à revista literária Orpheu.

Carlos Porfírio, perfeitamente identificado com o referido movimento pós-simbolista, parte para o estrangeiro após a sua 1ª exposição, em 1923. Viaja pelo mundo e fixa-se em Paris, onde trabalha durante vários anos, e convive com a intelectualidade francesa, da qual destacamos o pintor Pablo Picasso e a escritora Simone de Beauvoir.

Em 1939 regressou a Portugal e fixou-se em Faro, onde desenvolveu relevante actividade, para além da pintura. Contribui para a criação da Aliance Française e do Círculo Cultural do Algarve. É com um labor de anos e anos que cria o Museu Etnográfico de Faro, para o qual expressamente concebeu os mais belos qudros descritivos dos costumes, dos saberes e das crenças do povo algarvio, de toda a produção pictórica nacional.

Foi director do Museu que criou e ao qual deu alma através da sua arte de pintor, da sua fina perspicácia de etnólogo e de um sentido profundo de estética, que muito contribuíram para o excepcional resultado museográfico.

Anos após a sua morte, por decisão bastante controversa, a maioria das obras do pintor, que constituíam, por certo, as mais valiosas peças do acervo do Museu, foram dispersas por vários concelhos do Algarve. Muitas diligências têm sido feitas para conseguir o regresso das obras, sendo de realçar o empenhamento dos historiadores biógrafos de Carlos Porfírio, Teodomiro Neto e Emmanuel Correia, este com um livro sobre o pintor.

Depois de ter estudado cinema em paris e em Roma, carlos Porfírio realiza, em 1945-47, Sonho de Amor, com argumento da sua autoria. A figura feminina principal é protagonizada por uma jovem olhanenese que usa o nome artístico de Maria Eduarda Gonzalo. este primeiro filme foi rodado nos estúdios da Cinelândia, ao contrário do segundo, Um Grito na Noite, com argumento de Gentil marques, inteiramente rodado no concelho de Alcoutim, próximo da fronteira com Espanha. A protagonistas é de novo a bela Eduarda Gonzalo, que contracena com o jovem João Perry numa história sobre gente que vive do pequeno contrabando fronteiriço.

Carlos Porfírio dá-nos no cinema o seu olhar de artista, e, conquanto os seus filmes sejam a preto-e-branco, é ainda o pintor que nos fala. 

 

In: «Quem foi quem?: 200 Algarvios do Século XX/ Glória Maria Marreiros.- 2ª ed.-  Lisboa: Edições Colibri, 2001; pags. 423-4»